Nesse domingo, dia 22, cerca de 500 pessoas se reuniram em frente ao Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, para uma passeata em protesto contra a Lei Eleitoral 9504, que estabelece as normas para as eleições, e proíbe o uso de humor e sátira para criticar os candidatos. Organizada pelo grupo “Comédia em Pé”, a passeata contou com a presença também de diversos artistas, celebridades e comediantes.
Lá, esbarrei com ninguém menos do que Hernani Dias Lucas, o Nani, autor da logomarca do Humor Sem Censura , ameaçado (não só de processo ) pelo PT em julho, após publicar uma charge com a candidata Dilma Rousseff caracterizada como prostituta, em alusão aos “programas partidários”.
Num bate papo rápido e informal, Nani, redator de vários programas de humor, chargista, cartunista e humorista de primeira grandeza, falou um pouco sobre essa lei e a relação da censura com a imprensa:
Qual a sua opinião sobre essa lei que quer impedir os humoristas de fazerem humor com os candidatos?
Eu tenho 39 anos de profissão, e posso afirmar de carteirinha que a imprensa sempre teve problemas com a censura.
Vários juristas já disseram que esta lei é inconstitucional - e os culpados são os políticos – pois todos os partidos políticos aceitaram de bom grado esse artigo 45 por terem medo do que o humor pode denunciar, pois o humor sempre traz a transparência.
O que ocorre é uma censura subliminar através de pressão de grupos ligados ao governo; esses grupos sociais são amplamente financiados pelo governo para fazer papel de controle de opinião. Ora, se no governo FHC eram cerca de 500, hoje não menos de 7500 jornais em todo o Brasil recebem algum tipo de dinheiro do governo para tomar certos cuidados com as críticas. Isso é censura velada pra calar a boca da imprensa.
Eu vi no seu blog, na charge que você desenhou a Dilma caracterizada como prostituta, nada menos que 288 comentários, a maioria bastante ofensivos...
Esse negócio de desenhar a Dilma puta não fui eu que inventei. Associar a venda que os políticos fazem de seus ideais ou associar “programa político” à “garota de programa” é um recurso satírico muito antigo! Diversos chargistas já usaram mão desse tipo dessa analogia, sempre se fez isso na charge brasileira.
Agora que os políticos ficam ofendidos? Antigamente quem vinha em cima da gente (humoristas) era a polícia, hoje é o próprio povo mesmo. Quem processava a gente era o Estado. Agora são os trabalhadores, manipulados por forças políticas, que nos processam. Olha, muitos comentários que você viu lá no blog eram de pessoas vinculadas de alguma forma ao partido da Dilma; militantes, funcionários, gente que pertence aos grupos ligados ao governo que eu falei antes. Cheguei a receber ligações anônimas com ameaças de levar uma surra. E isso por causa de uma charge.
O Angelo Agostini teve um papel importantíssimo no desenho de humor do Brasil Império, pois suas charges ajudaram a formar opinião sobre o regime escravocrata, ou seja, pode-se dizer que o desenho satírico de Agostini contribuiu efetivamente para a abolição da escravatura.
Não é pra menos que ele foi o primeiro chargista a ser processado no Brasil. Isso porque ele fez um desenho fazendo crítica contra a burguesia política e logo foi processado. Por essas e outras que o Agostini saiu de São Paulo e veio se fixar no Rio de Janeiro, onde fundou a revista Tico-Tico, que durou 54 anos. Qual publicação de nosso tempo dura 54 anos?
Aliás, quem assumiu o processo foi a pessoa que veio a comprar o jornal que veio a ser o Estadão. A ironia é que hoje, em vez de burgueses, é outra classe que batalha para censurar a imprensa.Considerações finais?
Todos têm direito a não gostar de uma piada, existir um órgão governamental para censurar é que seria absurdo, multar em cem mil reais uma piada é absurdo. É disso que estamos falando e não no direito de as pessoas apreciarem ou não o humor que os humoristas fazem.
E pra quem quiser conhecer o Nani, aí está uma ótima oportunidade:
Pra quem quiser, o manifesto do Humor Sem Censura aqui:
http://blog0news.blogspot.com/2010/08/manifesto-humor-sem-censura.html
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